[QUADRINHOS] O Superman de Grant Morrison – Parte 4: Inimigos Meus

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De que adianta ser o super-herói mais poderoso do mundo se você não tem inimigos à altura de seus poderes? Foi pensando nisto que Grant Morrison cercou o Superman dos mais variados e poderosos inimigos ao longo de sua passagem por Action Comics. Enfrentando desde de industriais inescrupulosos até ameaças alienígenas, e demônios de outra dimensão, o Homem de Aço não descansou enquanto suas aventuras foram orquestradas pelo escritor escocês.

Nesta 4ª parte falarei de todos os vilões que tentaram dobrar a vontade e a convicção do maior super-herói do Universo DC nas 19 edições de Action Comics comandadas por Morrison.

Perdeu as partes anteriores? Você pode lê-las nos links abaixo (é de graça!):

Parte 1: O Homem e O Super-Homem
Parte 2: Krypton, Kryptonianos e Kryptonices
 Parte 3: Amigos, Super-Amigos, Pais Bondosos e um Super-Cão

 

Glen Glenmorgan

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Magnata inescrupuloso, e principal inimigo de Clark Kent e do Superman em seu início de carreira, Glen Glenmorgan foi utilizado por Grant Morrison para personificar todos os industriais corruptos e criminosos meramente humanos enfrentados pelo herói no primeiro ano da Action Comics original (1938-1939).

Glenmorgan era dono da Comunicações Galáxia, um conglomerado multimídia do qual o Planeta Diário fazia parte há 5 anos atrás. Além disto, ele financiou a revitalização do transporte urbano de Metrópolis, projeto responsável pela fabricação do trem bala que sofre um atentado à bomba logo na primeira edição, um crime que ele próprio armou para matar seu ex-capanga e silenciá-lo, e também para receber o dinheiro do seguro, pois o trem foi construído com peças de baixa qualidade.

Este atentado é importante por envolver em sua armação mais dois personagens: o misterioso Homenzinho e Lex Luthor. O Homenzinho é quem instala a bomba no trem e – apesar de não ser explicitamente revelado – em edições posteriores dá a entender que foi quem deu a Lex Luthor a dica sobre a hora exata em que a explosão ocorreria, pois é graças a ela que Lex consegue capturar o Superman em Action Comics #2.

Além disto, em Action Comics #3, Glenmorgan instigou sem-tetos, salvos pelo Superman da demolição (propositalmente descuidada) dos prédios condenados que usavam como moradia, a se voltarem contra o herói, oferecendo novos lares a eles, e incentivando-os a acusar o Homem de Aço de negligência, por não dar-lhes suporte depois que seu antigo lar foi destruído durante sua intervenção.

Em Action Comics #8 Glenmorgan diz que o Homenzinho foi quem lhe deu toda a riqueza e poder que reuniu em Metrópolis, que depois foi tomada dele, sugerindo que sua influência foi fruto de um pacto faustiano que Glenmorgan fez com este ser enigmático, que ele afirma ser o Diabo.

O “domínio” de Glenmorgan sobre Metrópolis termina após as denúncias de Clark Kent, todas embasadas com provas apresentadas por Ícaro, seu informante misterioso, que acaba se revelando outra peça do grande jogo do Homenzinho para atingir o Superman.

Lex Luthor

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O pouco que vemos de Lex Luthor nas histórias iniciais de Morrison indica apenas que ele era um gênio científico na época em que Glen Glenmorgan dominava os negócios de Metrópolis. Nenhum detalhe é revelado sobre sua família, ou se ele é tão endinheirado quanto sua versão pré-reboot. Pela evolução do personagem na fase do autor, sua fortuna e influência passam a crescer a partir do momento em que Glenmorgan perde todo o seu poder sobre Metrópolis.

Lex Luthor defende a idéia de que um organismo não-nativo/alienígena como o Superman deve ser eliminado antes que prejudique o ecossistema local e a evolução natural da humanidade. Não demora muito pra ficar bem claro que ele usa isto como desculpa para justificar cientificamente seu repúdio a um indivíduo que é tudo aquilo que ele não consegue ser. A presença do Superman o impede de ser reconhecido como o melhor que a humanidade tem a oferecer em termos de intelecto. E o visual levemente fora de forma do personagem apenas reforça este fato, além de referenciar o visual que o vilão passou a ter após a Crise nas Infinitas Terras, quando vários elementos e personagens relacionados ao Superman foram reformulados por John Byrne, que o transformou num magnata inteligente e acima do peso (o aspecto cientista foi reincorporado à sua personalidade apenas em meados da década de 90, especialmente na fase da Liga da Justiça escrita por Grant Morrison).

Outro ponto curioso é a covardia que Lex Luthor demonstra durante o ataque do Colecionador de Mundos a Metrópolis, um comportamento que contrasta com a excessiva autoconfiança e arrogância demonstradas por sua versão pré-reboot. Todo este temor, unido à maneira ríspida com a qual é tratado pelo Superman durante seu primeiro encontro, e ao fato óbvio de ver-se literalmente diminuído diante de uma ameaça alienígena que o obriga a conviver com aqueles que considera inferiores (ele está na parte de Metrópolis que é encolhida e posta numa das “garrafas” da coleção do Colecionador), contribuíram para fortalecer sua vontade de eliminar o Superman. Ironicamente, quem tem mais potencial para arruinar a evolução da humanidade é ele, em suas tentativas de eliminar seu maior herói, e não o Superman, como ele gosta de defender.

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Lex ajudando seu futuro maior inimigo sem nem desconfiar.

Outra ótima ironia é a revelação de que Luthor foi o informante misterioso conhecido como Ícaro, que deu a Clark Kent, na primeira edição, a dica sobre o atentado contra o trem bala, que ajudou o repórter a denunciar os crimes de Glen Glenmorgan. Assim, sem ter ciência disto, ele ajudou um de seus maiores adversários. Claro que para Lex era mais importante derrubar Glenmorgan, o que abriu um vácuo de poder em Metrópolis, que mais tarde foi preenchido por ele.

Após sua experiência com o Colecionador de Mundos, Luthor ficou mais motivado a transformar Metrópolis numa cidade que fizesse jus ao seu apelido: Cidade do Amanhã. Desta forma, Morrison deixa outro ponto a ser desenvolvido por outros escritores, sugerindo que Luthor foi um dos responsáveis por modernizar a infraestrutura de Metrópolis conforme seu poder e influência aumentaram.

Depois do confrontro do Superman com o Colecionador de Mundos, Luthor só ganha algum destaque na reta final da fase do Morrison. Assim como sua versão do universo paralelo apresentado em Action Comics#9 (mais detalhes sobre ele mais abaixo, no texto sobre o Super-Doomsday), ele é o criador da Matriz Sinfônica de Transmatéria, que é basicamente uma máquina para transportar algo ou alguém de um universo para o outro. A idéia para sua criação veio a Lex Luthor através de um sonho. Em Action Comics #16 o Homenzinho sugere que o sonho foi obra dele, e faz parte de um acordo que ele fez com Lex, provavelmente o mesmo que o ajudou a derrubar Glenmorgan do poder, embora Luthor pareça não se lembrar de nada sobre tal acordo.

lex_mechaEm sua última aparição na fase de Grant Morrison, Lex Luthor ajuda a salvar a vida do Superman defendendo-o do Super-Doomsday em Action Comics #18, o que demonstra quão crítica foi a situação criada por Vyndktvx (mais detalhes sobre isto na 5ª parte desta série). Importante notar que Luthor estava preso na ocasião (sob quais acusações o autor não revela, deixando outro gancho a ser explorado por outros escritores). Ele usa radiotelepatia para controlar o exoesqueleto robótico que enfrenta o Super-Doomsday, um “poder” que lembra o usado pelo Dr. Octopus para controlar remotamente seus tentáculos (talvez sugerindo que a armadura, sob circunstâncias normais, funciona ligada diretamente ao seu sistema nervoso, como ocorre com os tentáculos cibernéticos do inimigo do Homem-Aranha).

O Colecionador de Mundos (ou Brainiac “do mau”)

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O Colecionador de Mundos mistura várias versões da origem de Brainiac. Há referências à sua origem coluana nos quadrinhos (ele diz que veio do planeta Yod-Colu, onde era conhecido como C.O.M.P.U.T.O.) e à origem kryptoniana da série animada da década de 1990 (onde era uma inteligência artificial que monitorava as atividades de todo o planeta), além de ganhar uma relação mais íntima com a Terra, quando ele se define como sendo a própria internet de nosso planeta.

Essencialmente o Colecionador é uma inteligência artificial formada por um coletivo de redes de informações alienígenas, capaz de disseminar-se nas redes de dados do planeta onde se infiltra. Isto o diferencia da entidade Brainiac, que é apenas uma porção deste coletivo, originária de Krypton, preservada tanto em seu código como na Cápsula de Fuga usada para enviar Kal-El para a Terra. Por isto o Colecionador ganhou diferentes nomes em cada mundo que saqueou: Pneumenoid em Noma, Mind2 em Bryak e Brainiac 1.0 em Krypton são alguns exemplos. Ele usa as informações assimiladas para definir, localizar e coletar itens de maior relevância do mundo saqueado, a fim de armazená-los em sua coleção de relíquias de civilizações alienígenas extintas, que inclui cidades inteiras miniaturizadas e mantidas num campo nulo, em que a vida é totalmente paralisada, como se congelada no tempo. Estando a Terra numa lista de planetas sob risco de extinção, ela se torna um dos alvos. Na edição 15 descobrimos que esta lista é a dos 333 planetas retirados por Mxyzptlk de sua cartola para fazer travessuras e divertir o Rei-Coisa da 5ª dimensão, que foram atingidos pela Lança de Um Milhão de Pontas, que destruiu a maioria deles (mais detalhes sobre ela mais abaixo no texto sobre a Multitude, e na 5ª parte desta série).

O primeiro sinal da existência do Colecionador ocorre em Action Comics #2, quando descobrimos que os conhecimentos que Lex Luthor possui de Krypton e da origem alienígena do Superman foram passados a ele pelo Colecionador, que vinha se comunicando com Lex por transmissões de satélite de sua nave espacial em órbita da Terra. Esta conexão entre os dois vilões repete uma parceria que já ocorreu diversas vezes entre eles, tanto nos quadrinhos quanto nas séries animadas do Superman (1996-200) e da Liga da Justiça (2001-2006).

fortaleza_espacialO design de sua nave é o primeiro indício do amalgama de referências usado por Grant Morrison e Rags Morales para definirem o visual do Colecionador e sua tecnologia. Os hexágonos e tentáculos de sua couraça externa remetem ao visual do Brainiac da Era de Bronze.

Já a aparência insectóide de seu avatar físico lembra uma lagarta, uma pista para o potencial que o Colecionador possui de assumir formas mais poderosas e evoluídas (como uma borboleta), uma das capacidades mais conhecidas das versões pré-reboot do vilão, que sempre reconstruía seu corpo de novas maneiras.

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Action Comics #8

Na capa da edição #8 desenhada por Rags Morales é possível identificar com mais clareza outra homenagem a um dos autores/desenhistas cujo trabalho com o Superman marcou uma geração inteira: John Byrne. O design cheio de curvas das pernas metálicas lembram as máquinas desenhadas por ele, que gostava de imaginar tecnologias alienígenas com um visual mais orgânico que lembrava plantas e insetos, sugerindo uma fusão entre máquinas e seres vivos.

Na mesma edição descobrimos que o Colecionador é um ser tecnorgânico, pois sua “fonte de inteligência” são três cérebros, suponho, clonados ou extraídos de grandes gênios alienígenas, que forma o que Lex Luthor chama de Sistemas Cérebro-Interativos (segundo ele o significado da sigla Brainiac, ou seja, Brain = Cérebro e Iac/Interactive = Interativo). Os cérebros trazem sobre sua superfície uma rede de eletrodos que remete a outro elemento visual icônico do personagem (além disto, os três formam uma versão maior do triângulo formado pela ligação entre os círculos vermelhos, reforçando seu valor icônico). O design com características de insetos também referencia o último visual usado pelo vilão pré-reboot, no arco “Brainiac” (Action Comics v1 #866-870), escrito por Geoff Johns e desenhado por Gary Frank (outro indício da “obsessão” do autor por misturar várias referências aos visuais adotados pelo vilão ao longo de sua existência pré-reboot).

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Terminautas em ação.

Em Action Comics #3 o Colecionador toma o controle de todas as tecnologias do planeta – incluindo a armadura Metal-Zero, usada por John Corben – e constrói a partir delas seus Terminautas, exploradores/saqueadores robóticos de mundos em fase terminal, programados para coletar artefatos significativos das culturas predominantes do mundo. Sua possessão sobre a mente e a armadura de Metallo também pode ser vista como referência a sua origem pós-Crise nas Infinitas Terras, quando ele era apenas uma consciência alienígena que se apossava de um terráqueo.

action_comics_7_09Em Action Comics #4, o Colecionador, usando Metallo como conduíte, refere a si mesmo como a Colônia do Colecionador de Mundos, evidenciando que ele age através da coordenação de múltiplos agentes que funcionam como braços de seu corpo coletivo wi-fi. É um brilhante exercício de sintetização o que Morrison faz ao ligar tantas versões e personagens distintos, envolvendo-os numa só crise. Tão boa quanto é a idéia de usá-lo como pretexto para o Superman ter acesso a mais informações sobre Krypton, e um maior contato com artefatos kryptonianos, como o uniforme que ele usará. Esta é outra referência à versão do personagem no desenho animado do Superman da década de 1990. Nele, após derrotar Brainiac pela primeira vez, o herói rouba uma esfera de informação da nave do vilão – espécie de HD superavançado – que contém dados sobre toda a história de Krypton.

colector_metallojpgOutra sacada genial de Morrison é a brincadeira que ele faz através de toda a situação armada pelo Colecionador. Temos o Superman, também conhecido como Homem de Aço, aliando-se ao herói Aço para combater os Terminautas do Colecionador, e mais tarde Metallo, que está sob o domínio do Colecionador. Perceberam? O autor praticamente acena para o leitor ao tornar gritantes as “coincidências temáticas”, reunindo heróis e vilões cujo metal é o elemento físico e simbólico que os conecta. Além disto, a luta do Superman contra os Terminautas também pode ser interpretada como uma referência ao desenho animado do Superman dirigido por Max Fleisher em 1941, que foi referenciado na capa alternativa de Jim Lee para a primeira edição. Morrison ainda explicita esta mistura de referências quando bota Metallo montado sobre o dorso do Colecionador de Mundos no final de Action Comics #7.

O Colecionador é derrotado por Brainiac, a inteligência artificial que controla a Cápsula de Fuga de Kal-El, em Action Comics #8. Miniaturizada junto com um pedaço de Metrópolis, ela fica do tamanho de uma bala, que o Superman atira num dos cérebros do vilão. Isto faz o Colecionador ser infectado por Brainiac, que o domina, e assume o controle sobre sua nave, transformando-a na primeira Fortaleza da Solidão.

Curiosidade: o valor simbólico da bala é um tema recorrente nos trabalhos de Grant Morrison. Em Sete Soldados da Vitória o surgimento da heroína Mulher Bala é consequência de uma cadeia de eventos iniciados na aurora do homem pelos Novos Deuses, tornando-a, simbólica e literalmente, uma bala disparada por eles contra a ameaça alienígena dos Sheedas, enfrentada pelo grupo na saga multi-séries. Já na saga Crise Final uma bala disparada do futuro mata o novo deus Órion no passado, marcando o início da dominação de Darkseid sobre a Terra. Esta mesma bala é usada no final da saga pelo Batman para ferir mortalmente Darkseid, que antes de perecer carrega o corpo do herói de energia ômega, lançando-o de volta à aurora do homem, convertendo-o numa “bomba ômega humana”, que acumula energia a cada salto temporal espontâneo que o herói dá em direção ao presente, onde seria detonado, destruindo a Terra e o ponto de equilíbrio do Multiverso. Claro que, sendo ele o Batman, o plano de Darkseid é revertido a favor dele, e tudo termina bem (mais detalhes sobre isto vocês podem encontrar em meu texto sobre o Batman de Grant Morrison, que pode ser lido aqui).

Metal-0 (Metal-Zero ou Metallo)

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Não dá pra dizer que John Corben é um homem de sorte. Mesmo amparado pelo pai da moça, não foi capaz de emplacar um namoro com Lois Lane. E quando se voluntariou como piloto de teste da armadura Metal-0 (Metal-Zero), principal produto do Projeto Soldado de Aço, uma co-criação de John Henry Irons, o futuro herói Aço, financiada por militares, que seria a “primeira linha de defesa contra uma invasão alienígena”, e principal arma contra o Superman, a tecnologia foi uma das primeiras dominadas pelo invasor alienígena conhecido como Colecionador de Mundos, que assumiu o controle sobre a mente de Corben usando sua interface com a armadura como porta de entrada.

Vale a pena reparar nos plugs na cabeça de Corben no momento em que é dominado pelo Colecionador no final de Action Comics #3, que remetem a um dos visuais mais clássicos de Brainiac, já sugerindo a “simbiose tecnológica” que se estabelecerá entre os dois vilões.

Servindo de marionete ao Colecionador, Metallo virou uma espécie de capanga do invasor alienígena, que o usou para combater fisicamente o Superman. Na batalha final entre o herói e o Colecionador, Corben conseguiu recuperar o controle de seu corpo por tempo o suficiente para ajudar o Superman a derrotar o alienígena. Mais tarde descobre-se que a implantação de componentes alienígenas na armadura fez Corben perder seu coração humano, tornando-se totalmente dependente da tecnologia para sobreviver, pois ela fundiu-se a seu sistema nervoso. Isto fez a armadura ganhar a capacidade de manter o corpo de Corben funcionando, mas apenas por um tempo limitado, pois ele precisa de uma fonte de energia mais durável. Isto abriu espaço para o vilão ganhar seu icônico coração de kryptonita.

Capitão Cometa (Adam / O “Primeiro Superman”)

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O Capitão Cometa é mencionado pela primeira vez em Action Comics #10, durante a conversa que Clark Kent tem com Lois Lane e Jimmy Olsen, na qual discutem relatos e evidências questionáveis de aparições do Superman que datam de 10 anos antes de sua primeira aparição em Metrópolis. Por isto ele é apelidado de “O Primeiro Superman”, embora nos jornais locais que mencionam suas aparições no Kansas ele seja conhecido como o “Fantasma da Fazenda Blake”.

Sua origem é revelada em Action Comics #12. Nascido Adam Blake, o Capitão Cometa reimaginado por Grant Morrison ganhou poderes de um artefato não identificado que caiu perto da fazenda onde nasceu no Kansas, sendo eles: telecinésia, projeção astral e percepção extrassensorial. A origem deles tem relação com uma raça alienígena conhecida como Oort.

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Capitão Cometa e Susie com outros Neo Sapiens

Rebatizando-se de Aaron Van Dien, o Capitão Cometa trabalha para os Oort, a quem ele se refere como os “donos da Terra”, ajudando-os a encontrar outros Neo-Sapiens, com os quais pretendem criar poderosos guerreiros. Também conhecidos como Nutantes, os Neo-Sapiens são seres humanos nascidos 100.000 anos à frente de seu tempo com cérebros pós-humanos de 4 lobos. Sua missão é preparar seu mundo natal quando chegar sua vez de herdá-lo como raça dominante. No caso de Adam seus poderes mentais foram aumentados com tecnologia alienígena.

Susie, sobrinha de Lois Lane, também é um Neo-Sapien, com quem o Capitão Cometa estabeleceu contato telepático antes de se encontrarem pessoalmente, se apresentando a ela como o Homem do Espaço. Ele revela à garota que existem mais cinco Neo-Sapiens conhecidos, e que várias agências interestelares estavam atrás dela, sendo os Metaleks seus agentes (falo mais sobre eles num dos textos abaixo). Foi Susie quem o rebatizou de Capitão Cometa. Sim, ele é um homem de muitos nomes, o que curiosamente se conecta com um comentário que Suzie faz para Lois  em Action Comics #11, quando estava escolhendo nomes para os hamsters que ganhou de presente (mais sobre isto no texto sobre a menina, mais abaixo).

Apesar de começar como um adversário do Superman, com o passar dos anos o Capitão Cometa tornou-se um aliado do Homem de Aço, algo que Morrison preferiu não detalhar em sua passagem pelo título. Ele e os Neo Sapiens reaparecem em Action Comics #18.

No confronto final do Superman com Vyndktvx (do qual falarei detalhadamente na 5ª e última parte desta série), os Neo Sapiens conseguem perceber/intuir com mais precisão o aspecto pentadimensional do embate, graças ao seu processamento neural – que é superior ao de um ser humano normal – e sua percepção extrassensorial. Susie descreve onde exatamente está ocorrendo a batalha dizendo que “tudo está ocorrendo em um mundo mais elevado” e “em todos os diferentes mundos existentes, ao mesmo tempo.”

Multitude

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Muitos mistérios, citações enigmáticas, e grandes e temíveis expectativas cercaram as primeiras menções da ameaça conhecida como Multitude. O primeiro a informar sua existência foi o Colecionador de Mundos. Foi com base na lista dos 333 mundos que foram ou serão atacados por ela que o vilão alienígena definiu quais civilizações teriam seus artefatos catalogados em sua coleção. Não fica claro de que forma ele teve acesso a esta lista pela primeira vez, mas podemos conjecturar que ela estava entre os dados aos quais o Colecionador teve acesso em Krypton, pois Jor-El foi um dos poucos capazes de repelir a Multitude e salvar seu mundo da ameaça, conforme é revelado em Action Comics #11. Outra menção a ela é feita em Action Comics #12, quando o Capitão Cometa comenta rapidamente com Susie sobre a “Lança de Um Milhão de Pontas”.

Somente anos depois de seu confronto com o Colecionador de Mundos é que o Superman finalmente teve seu primeiro e único contato com a Multitude (em Action Comics #14), que nada mais era do que milhares de anjos portando lanças de luz que devoravam tudo em seu caminho. Na ocasião o herói enfrentava os Metaleks em Marte (já falo sobre eles num texto abaixo), que uniram-se ao Homem de Aço para defenderem-se da Multitude, que também os atacou.

Porém a Multitude é mais do que uma multidão de anjos, pois este é apenas seu aspecto na 3ª dimensão. Pensando pentadimensionalmente, o Superman deduziu que a Multitude é uma coisa só, uma arma da 5ª dimensão, uma Lança de Um Milhão de Pontas, que foi usada contra a 3ª dimensão, causando um grande estrago no universo, vitimando 333 mundos (cada um atingido por milhares dessas pontas). Para que seu ataque fosse repelido, o herói propôs a criação de um campo escalar que alcancasse a 5ª dimensão usando uma máquina capaz de gerar 10 gigawatts (pra vocês terem uma noção da potência, o Delorean da trilogia De Volta Para o Futuro precisava apenas de 1,21 gigawatts pra realizar uma viagem no tempo). Um campo com esta amplitude só pode ser criado a partir da unificação entre duas forças fundamentais do universo, a gravidade e o eletromagnetismo, que por sua vez só é possível caso exista um meio de provar experimentalmente as interações de todos os fenômenos físicos que constituem o universo. Estamos falando de uma proeza científica ligada ao que a física chama de Teoria do Campo Unificado, que explicaria todo o universo.

O Superman realiza o impossível oferecendo seu corpo para servir de canalizador dos gigawatts e assim gerar o campo escalar, tornando ele próprio o campo unificado (apoiando-se numa teoria de que a consciência é o tão perseguido campo unificado)! Desta forma a Multitude/Lança é repelida, e o Homenzinho, que a segurava na 5ª dimensão, é ferido (mais sobre isto na Parte 5).

O EXÉRCITO ANTI-SUPERMAN

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Apesar de sua primeira aparição ocorrer em Action Comics #5, o Exército Anti-Superman teve a maioria de cada um de seus membros apresentados individualmente a partir da edição 9 (com uma breve aparição de Nimrod no final de Action Comics #8).

Reunidos pelo Homenzinho, o grupo é formado por indivíduos cujas vidas foram tragicamente afetadas pelo Superman. Quase todos enfrentaram sozinhos o Homem de Aço antes de serem recrutados.

Abaixo falo sobre cada um de seus membros.

Metaleks

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Segundo o Superman, o Metalek que ele enfrenta em Action Comics #11 é o terceiro membro de uma raça alienígena a aparecer na Terra durante os meses posteriores ao seu confronto com o Colecionador de Mundos, sendo ele primeiro e Darkseid o segundo (contra quem ele lutou no primeiro arco de Liga da Justiça pós-reboot).

Os Metaleks são uma inteligência alienígena xenomorfa. Aparentemente eles são como os Aliens, com a diferença de que eles podem usar como hospedeiro tanto seres orgânicos quanto máquinas. O modo como ele age através do hospedeiro lembra o alienígena do filme O Enigma do Outro Mundo.

Em sua segunda aparição, em Action Comics #14, os Metaleks atacam Marte, onde o Homenzinho infiltrou-se numa equipe formada por cientistas do mundo inteiro (uma espécie de extrapolação da Estação Espacial Internacional) que vivem numa instalação de pesquisa no planeta, cujo objetivo é terraformar Marte.

Os Metaleks seguem sua diretriz original desde que fugiram de seu mundo natal séculos atrás, servindo como máquinas de construção alienígenas programadas para construir um novo lar para uma raça alienígena que não existe mais (destruída durante um ataque da Multitude), desmontando a base dos cientistas e reconstruindo-a na forma de uma cidade alienígena.

Após enfrentarem a Multitude ao lado do Superman, os Metaleks apareceram nas edições finais de Grant Morrison, sem grande destaque, ao lado dos demais membros do Exército Anti-Superman.

K-Men (Homens Kryptonita)

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Um trio formado por dois homens e uma mulher cujos poderes foram gerados após serem expostos à kryptonita verde e suas variantes vermelha e azul.

O único de seus membros que teve um background melhor elaborado foi o Homem-Kryptonita Verde, que tem a capacidade de emitir radiação verde, cujo efeito é envenenar o sangue do Superman. Ele foi um dos primeiros criminosos punidos pelo Homem de Aço, quando o herói descobriu que ele batia na esposa. Para reduzir sua pena na prisão, ele aceitou ser cobaia de um experimento militar com kryptonita verde.

Os outros dois são o Homem-Kryptonita Azul, cuja radiação emitida, segundo ele, mata o espírito do Superman; e a Mulher Kryptonita Vermelha, cuja radiação afeta radicalmente a percepção do Superman. Não foram revelados seus nomes verdadeiros nem quem eles foram antes de se tornarem criminosos. O pouco que foi dito sobre a mulher é que ela uma vez foi rejeitada pelo Superman, num confronto que Grant Morrison não mostrou em sua passagem por Action Comics.

O trio foi facilmente derrotado pelos Neo-Sapiens liderados pelo Capitão Cometa em Action Comics #18, durante a investida final de Vyndktvx contra o Superman.

Nimrod

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Maxim Zarov, codinome Nimrod, é um caçador que se orgulha de ter matado membros de todas as espécies de seres vivos da Terra. Nimrod faz sua “primeira aparição” em Action Comics #8 matando um tiranossauro, pouco antes de ser contratado pelo Homenzinho para matar o Superman (assim como os demais membros do Exército Anti-Superman, ele aparece primeiro no mini-arco publicado em Action Comics #5 e 6).

Nimrod ficou muito perto de descobrir que Clark Kent era o Superman, após investigar suas origens e traçar conexões entre a chegada de sua nave no Kansas, a proximidade entre o local da aterrissagem e a fazenda dos Kent, e os relatos de aparições de um homem com superpoderes na região.

Durante seu primeiro embate com o Superman, em Action Comics #10, ele teve seu rosto desfigurado, ganhando com isto uma motivação a mais para continuar sua caçada ao Homem de Aço. Se antes ele queria matar o herói apenas para adicionar um “homem de outro mundo” à lista de seres vivos que já matou como caçador, depois disto Nimrod desejou vingar-se do herói pela derrota e humilhação sofridas. Para cumprir sua missão Nimrod recebeu a chance de entrar para o Exército Anti-Superman do Homenzinho. É de se pensar se o Homenzinho não foi o responsável indireto pela desfiguração de Nimrod, criando, com ela, a motivação que ele precisava para sentir ódio do Superman.

Após seu acordo com o Homenzinho, Nimrod ganhou armas com tecnologia vinda do futuro. Fica sugerido que elas vieram do mesmo futuro retratado na saga DC 1.000.000, que Morrison escreveu na época que comandava o título da Liga da Justiça. Por exemplo, em Action Comics #6 é dito que ele usou uma arma de teleporte para materializar dentro do cérebro do Superman um bala contendo em seu interior um Espaço Tesseract – que é um ponto de compressão espacial em que um local muito grande pode ser contido num espaço muito pequeno – uma tecnologia muito citada durante a saga que escreveu alguns anos atrás. No Espaço Tesseract contido na bala está a base do Exército Anti-Superman. Ou seja, os maiores inimigos do Homem de Aço encontram um jeito de usar seu cérebro como esconderijo, a fim de atingi-lo de dentro pra fora usando a kryptonita que eles roubaram da Cápsula de Fuga.

Outra arma futurista usada por Nimrod são as Minas Tesseract. Quando detonadas elas desdobram ambientes inteiros. Digamos que você está lutando contra um inimigo que não se dá bem numa floresta fechada. Basta você detonar uma Mina Tesseract contendo este ambiente, e seu inimigo se vê repentinamente no meio de uma mata fechada. O princípio é muito parecido com o das Cápsulas Hoi-Poi do mangá Dragon Ball, que eram dispositivos pequenos capazes de armazenar veículos e até mesmo uma casa inteira.

Durante o ataque final do Exército contra o Superman, Nimrod ficou encarregado de matar o Mr. Triple X no hospital onde estava em coma, mas foi impedido por Jimmy Olsen e Lois Lane, que o nocautearam antes de puxar o gatilho.

Susie

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Conforme já adiantei no texto sobre o Capitão Cometa, Susie é sobrinha de Lois Lane, e também um neo-sapien, um ser humano cuja capacidade de processar informações em sua mente está 100.000 anos à frente do processamento neural de um ser humano normal.

As habilidades da menina foram sugeridas em sua primeira aparição, em Action Comics #11, quando ficou bem claro que ela era uma criança hiperativa e multitarefas. Susie escolhia nomes para os hamsters que ganhou de presente da tia, desenhava gráficos misteriosos e mexia em seu iPhone enquanto conversava com Lois, tudo isto quase simultaneamente, e feito com uma desenvoltura impressionante (e o trabalho de Grant Morrison e do desenhista Brad Walker deve ser elogiado aqui, pois a dupla conseguiu transmitir esse dinamismo e fluidez nas duas páginas em que ocorre a cena):

Na mesma conversa, enquanto ela escolhe nomes para os hamsters, Susie sugere que sua tia imagine se todas as pessoas tivessem todos os nomes ao mesmo tempo, e se pergunta como eles soariam de trás pra frente. Morrison parece sugerir que a garota tem um tipo de intuição sobre a existência de seres da 5ª dimensão, como Mxyzptlk/Mr. Triple X, a Princesa Gsptlnz/Sra. Nixly, e especialmente o Vyndktvx/Homenzinho. Esta é a primeira pista que indica a percepção pentadimensional intuitiva de Susie. A outra ocorre logo no final da conversa, quando seus olhos brilham refletindo as luzes de constelações, uma dica visual que em quadrinhos de super-heróis normalmente sugere um personagem com consciência cósmica, ou seja, capaz de conectar seus sentidos ao universo.

Apesar de não ser uma inimiga do Superman, Susie é forçada a entrar para o Exército Anti-Superman depois que o Homenzinho ameaça machucar seus pais caso não o ajude em seu plano para matar o herói.

Doutor Xa-Du

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O portal para a Zona Fantasma foi usado pela primeira vez para aprisionar o Doutor Xa-Du, acusado de realizar experimentos de animação suspensa sem permissão. O episódio ocorreu algum tempo depois de Jor-El derrotar a ameaça conhecida como Multitude. Antes de ser transportado para a dimensão fantasmagórica, Xa-Du jurou vingança a Jor-El e sua família. Na ocasião ele estava usando uma manopla, que mais tarde se revelaria fundamental para que ele encontrasse um meio de sair daquela dimensão.

20 anos depois de aprisionado, o Doutor Xa-Du recebeu a chance, prevista pela lei de Krypton, de pedir perdão pelo seu crime, mas ele “reapareceu” como um fantasma no meio da população de kryptonianos desesperados com as convulsões finais de seu planeta, pouco antes de se destruir totalmente. Em sua condição ele foi incapaz de enxergar, ouvir ou sentir qualquer coisa ao seu redor.

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Krypto provando sua fidelidade a Kal-El, salvando-o do Doutor Xa-Du.

De alguma forma, Xa-Du descobriu que Jor-El estava olhando para dentro da Zona Fantasma quando pensou em usá-la para fugir de Krypton. Foi a chance que ele aguardava para tentar escapar da dimensão usando sua manopla, que ele transformou num conduíte para sua presença no plano material. Isto o permitiu atravessar parcialmente a barreira, e quase puxar Kal-El para a Zona Fantasma. Não fosse pelo sacrífico de Krypto, isto teria acontecido.

Mais 20 anos se passaram até Xa-Du encontrar um novo meio de escapar da Zona Fantasma: seguir Krypto até seu dono, cuja forte conexão com Kal-El o permitiu “farejá-lo” da dimensão até a Terra, através de ano-luz de distância (isto é que é fidelidade!). Para sair da Zona Fantasma Xa-Du usou um ecto-traje carregado de consciência pura e vontade absoluta.

Seu primeiro confronto com o Superman ocorreu em Action Comics #13, numa história que se passa um ano depois do herói derrotar o Colecionador de Mundos, quando o herói já tem a Fortaleza da Solidão da Antártida. Assim que se liberta Xa-Du aprisiona o Homem de Aço na Zona Fantasma.

Para sair da Zona o Superman usou toda a sua convicção para ultrapassar a barreira entre o material e o imaterial, e assumir o controle do ecto-traje de Xa-Du, tomá-lo dele, e abrir o portal para retirar-se da Zona. Aparentemente o que ele fez foi projetar sua vontade através das dimensões, como um segundo corpo astral, o que configura um novo superpoder do herói. Quando o portal é aberto, e ele é “cuspido” para o plano material, seu “fantasma” dentro do traje desaparece. Mais um feito que Morrison usa para salientar o Superman como o herói que consegue realizar o impossível para impedir que o mal prevaleça.

Logo após ser novamente aprisionado na Zona Fantasma, Xa-Du foi contatado pelo Homenzinho, que usou seus poderes para libertá-lo novamente. Ele participou do plano final de Vyndktvx contra o Superman, mas foi facilmente derrotado pelo Capitão Cometa, que o “exorcizou”, aparentemente aprisionando-o mais uma vez na dimensão fantasmagórica de onde escapou.

Super-Doomsday

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Na história fechada de Action Comics #9 foi revelado que num universo alternativo Lois Lane, Clark Kent e Jimmy Olsen eram amigos e cientistas que inventaram uma máquina capaz de criar uma tulpa, um pensamento sólido, uma idéia com vida independente de seus criadores. A tecnologia criada pelo trio usava vibrações sonoras e pensamentos sólidos. A idéia toma como base o “macro-conceito” por trás da natureza do Multiverso DC, no qual cada universo tem uma frequência vibratória única, e também a Teoria das Supercordas, que define a matéria como fundamentalmente composta de partículas subatômicas que vibram como as cordas de um violão (metaforicamente falando).

A intenção do trio de amigos era criar com sua tecnologia um messias, um campeão redentor capaz de salvar o mundo e inspirar pessoas, alguém que fosse mais duradouro que atores e astros do rock: a idéia do Superman. Isto remete a uma das afirmações mais defendidas por Grant Morrison em seu livro Superdeuses, de que tanto o Superman como a bomba atômica foram idéias antes de serem materializados no mundo em diferentes dimensões (o herói na 2ª e a bomba na 3ª dimensão). O autor, obviamente, prefere a idéia do Superman à da bomba (ou seja, uma idéia inspiradora no lugar de uma destruidora).

action_comics_09_11Lois, Clark e Jimmy vendem os direitos da marca Superman para obterem mais verba para suas pesquisas e assim desenvolverem novas aplicações de sua tecnologia, capazes de beneficiar o mundo além da figura inspiradora que criaram. Porém os novos donos transformam a marca em algo impessoal e agressivo, fazendo do Superman de seu mundo um ícone de marketing global. O empresário responsável pela transação é o Homenzinho, detalhe que é apenas insinuado em Action Comics #9, e confirmado na edição #16.

Outro uso possível da máquina desenvolvida por Lois, Clark e Jimmy é sintonizá-la com frequências vibratórias de outros universos, o que gera um portal interdimensional. É ele que o trio usa para fugir de um universo para o outro, enquanto é perseguido pelo Super-Doomsday. Como aquele Superman estava vinculado à imaginação da coletividade de seu mundo, ele acabou refletindo a agressividade de um planeta dominado por ganância e desejo de status, perseguindo Lois, Clark e Jimmy por serem idealistas demais e, por isto, contra essa “postura coletiva” que o alimentava. Assim ele começou a caçar o trio através de universos, matando pelo caminho os Supermen (a concorrência) de cada mundo em que esteve. Com isto ele se tornou a Maldição do Superman. Seu símbolo lembra uma mistura da foice e do martelo soviética com a suástica nazista. Seu “rosto” possui traços que remetem ao vilão Apocalipse da Marvel e ao Anti-Monitor da DC (em Action Comics #17 é revelado que na verdade é uma máscara).

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O Super “Obama” e a Matriz Sinfônica de Transmatéria

Após enfrentar o Superman negro de um universo paralelo (o mesmo herói que apareceu na última edição da saga Crise Final, também escrita por Morrison), o Super-Doomsday foi transportado para a Terra 1 através da Matriz Sinfônica de Transmatéria, a mesma máquina que levou Lois, Jimmy e Clark de seu universo de origem para o mundo do Superman “Obama” visto em Action Comics #9. Tanto naquele universo como na Terra 1 a máquina foi criada por Lex Luthor a partir de uma idéia que veio até ele num sonho. O Luthor da Terra do “Super-Obama” diz que sonhou com ela após usar drogas, muito provavelmente sob influência do Homenzinho (que participou da negociação na qual apossou-se da tecnologia de Lois, Clark e Jimmy), já o Luthor da Terra 1 tem a idéia apenas sonhando, sem “aditivos químicos”. Fica claro que ambos fizeram algum acordo com o Homenzinho, embora o Luthor da Terra 1 não se lembre disto. Provavelmente porque ele nunca encontrou-se pessoalmente com o disfarce tridimensional de Vyndktvx, de quem recebeu apenas dicas anônimas por telefone, semelhante ao que Luthor fez com Clark no início de sua carreira, quando assumiu o codinome Ícaro, para ajudar o jovem repórter nas investigações jornalísticas que ajudaram a derrubar Glen Glenmorgan. (E vale lembrar que uma das características que Morrison aponta em Superdeuses sobre os seres da 5ª dimensão é que eles são capazes de ler nossos pensamentos de forma semelhante à usada por nós para lermos os “pensamentos” de personagens da 2ª dimensão através dos balões dos quadrinhos. Isto funcionaria em duas vias, permitindo que eles também inserissem idéias nas mentes de seres de uma dimensão mais baixa, como nós também fazemos preenchendo os balões de pensamento e fala dos personagens dos quadrinhos. Isto tem relação com a experiência mística que o autor teve em Kathmandu, quando supostamente estabeleceu contato com seres da 5ª dimensão, que revelaram informações sobre a origem e estrutura do Multiverso, às quais ele considera a principal fonte de inspiração de todos os seus trabalhos nos quadrinhos.)

superdoomsday3Analisando a forma como o Super-Doomsday foi concebido por Morrison, dá pra deduzir que o autor o transformou na personificação da agressividade e violência características dos quadrinhos de super-heróis da década de 1990. Além disto, através do vilão, ele faz uma crítica sobre os riscos da exploração desmedida de uma franquia. O próprio Super-Doomsday se descreve em Action Comics #17 como uma “franquia assassina irrefreável”, alimentada pela diretriz corporativa de “aniquilar a competição”, “um pensamento que fica cada vez maior conforme você pensa nele”, “o pensamento de um Superman melhor”, “maior” e “mais forte e cruel”, completando a lista de semelhanças entre ele e sua versão da década de 1990 (cujo nome original era Doomsday), que matou o Homem de Aço em uma de suas histórias mais famosas. Morrison parece dizer por intermédio dele que somente um pensamento alimentado para tornar-se maior que uma idéia nobre seria capaz de matar um mito. A suspeita se confirma quando ele tem seu capacete destruído pelo Superman, e seu rosto exibe as mesmas deformidades ósseas do Apocalipse original. Resumindo, o Super-Doomsday é uma versão deturpada do Superman, transformada em seu maior inimigo, o que representa outro tema recorrente na obra de Morrison, que vem usando idéia semelhante no título Batman Incorporated (Corporação Batman, aqui no Brasil), onde a organização comandada pelo Cavaleiro das Trevas enfrenta a Leviatã, que é o exato oposto de sua corporação.

Na próxima semana: O Homem de Aço versus O Demônio da 5ª Dimensão.

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