[TOP 10] Os Relançamentos Mais Importantes da História dos Quadrinhos

A indústria dos quadrinhos de super-heróis dos Estados Unidos, dominada pela Marvel e a DC Comics, é povoada de personagens com décadas de existência, que de tempos em tempos precisam passar por uma repaginada para reforçar seu apelo para uma nova geração de leitores. Disto surgem as iniciativas que relançam séries a partir do número um, isto quando não se apela para uma medida mais drástica: o reboot de todo o universo ficcional.

Já ocorreram vários destes “novos começos” no multiverso dos quadrinhos, e alguns outros estão prestes a ocorrer em breve, com o “reinício” de Capitão América, Thor e Homem de Ferro em novembro, e os títulos Vingadores e Novos Vingadores rumando para seus respectivos “fins” antes de começarem de novo a partir de maio de 2015, conforme noticiamos anteriormente

Aliás, a Marvel representa um exemplo de que a tendência pode se mostrar mais frequente, pois nos últimos 3 anos tivemos 2 iniciativas de relançamento de títulos da editora, a Marvel NOW! e a All-New Marvel NOW!, às quais se juntará a Avengers NOW!

Com isto em mente, é hora de relembrar alguns dos relançamentos mais marcantes da história dos quadrinhos de super-heróis. Abaixo estão listados dez deles.

VALIANT / GOLD KEY

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Os personagens da Valiant só começaram a ser conhecidos no Brasil graças ao lançamento dos mixes da HQM ano passado, mas o universo do qual fazem parte existe desde 1989.

A Valiant foi fundada por Jim Shooter, ex-editor-chefe da Marvel, em parceria com os artistas Barry Windsor-SmithBob Layton. Juntos eles relançaram personagens de uma editora chamada Gold Key Comics, e com isto criaram uma das editoras de quadrinhos mais bem sucedidas da década de ’90.

Em 1996, todo universo ficcional da editora foi descontinuado e relançado após a compra da Valiant pela Acclaim Entertainment, conhecida pelos gamers como a empresa responsável pelo lançamento de Mortal Kombat.

Na época a reformulação contou com escritores aclamados dos quadrinhos, entre eles Warren Ellis, Mark Waid, Kurt Busiek Garth Ennis.

Por fim, em 2012, ocorreu o último relançamento da Valiant, com o reinício de títulos como X-O Manowar, Bloodshot, e Harbinger, sendo desde então um sucesso de vendas e de críticas.

Paralelo a tudo isto, vários personagens originalmente pertencentes à Gold Key serão relançados pela editora Dynamite, também contando com um grupo respeitável de escritores e artistas, entre eles Greg Pak, Mark Waid (de novo!), Fred Van LenteFrank Barbiere e o brasileiro Joe Bennett.

LANTERNA VERDE: RENASCIMENTO

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Atualmente a franquia Lanterna Verde é uma das maiores da DC Comics. Ela possui cinco títulos mensais (Lanterna Verde, Tropa dos Lanternas Verdes, Tropa dos Lanternas Vermelhos, Lanterna Verde: Os Novos Guardiões e Sinestro), além de brinquedos, uma série de animação e um possível futuro filme, que pode surgir caso consigam revitalizar a marca num filme da Liga da Justiça.

Tudo isto se deve ao trabalho de Geoff Johns, que em 2005 foi incumbido da tarefa de trazer de volta Hal Jordan como principal Lanterna Verde. Além de ressuscitá-lo, e explicar sua transformação no vilão Parallax em histórias da década de ’90, o autor expandiu a mitologia em torno do herói, que passou a fazer parte de uma das várias tropas de portadores de anéis alimentados por diferentes fontes de energias provenientes de diversos “espectros emocionais” gerados pela vida senciente do Universo DC inteiro!

Todos estes acréscimos feitos por Johns tornou possível a revitalização da marca, a produção (para o bem ou para o mal) do filme de 2011 estrelado por Ryan Reynolds, da série animada pra TV, filmes de animação para DVD, além do autor ser a mente por trás de vários dos principais eventos do Universo DC nos últimos anos (A Noite Mais Densa, O Dia Mais Claro, Ponto de Ignição e Vilania Eterna, só pra citar os principais).

STAR WARS DA DARK HORSE

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A franquia Star Wars já teve uma série com mais de 100 edições publicada pela Marvel entre 1977 e 1987, até perder os direitos para a Dark Horse em 1991.

Desde então a editora foi a única detentora dos direitos de produzir quadrinhos ambientados no universo criado por George Lucas dos cinemas, algo que tornou a Dark Horse uma das 5 editoras dos Estados Unidos que mais vendem HQs.

Após mais de 20 anos publicando séries mensais, minisséries, edições especiais e crossovers, a Dark Horse perderá os direitos sobre a marca, que voltarão para a Marvel Comics em 2015, graças à compra da franquia Star Wars pelo conglomerado multimídia do qual a Disney é dona, e com isto a Casa das Ideias será o novo lar dos Cavaleiros Jedi e todo o seu universo.

O trabalho que a Dark Horse fez com a franquia nos quadrinhos é tão importante que a Marvel, a partir de abril de 2015, republicará histórias editadas por sua antecessora, além de produzir novas séries.

DEMOLIDOR DO SELO MARVEL KNIGHTS

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Após penar com vendas inexpressivas durante a década de ’90, a série solo do Demolidor foi relançada sob o selo Marvel Knights em 1998, comandada por Kevin Smith (roteiros) e Joe Quesada (desenhos).  O relançamento foi um sucesso, que alavancou a carreira de Quesada, idealizador do novo selo, que propunha uma abordagem um pouco mais madura do que a habitual para heróis do terceiro e quarto escalão da Marvel Comics (em sua maioria os vigilantes, como Justiceiro, Shang Chi, Manto e Adaga, entre outros).

O sucesso de crítica e de vendas levou Quesada a tornar-se editor-chefe da Marvel, cargo que ocupou por uma década, sendo o grande responsável por tornar a editora a líder do mercado de quadrinhos e base de lançamento para a expansão de suas marcas nos cinemas, TV, games, cujas manifestações vemos hoje em dia, especialmente nas produções do Marvel Studios. Nada mal pra quem começou desenhando a série de um vigilante urbano, não?

O HOMEM DE AÇO

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Com o fim da Crise nas Infinitas Terras em 1986, coube a John Byrne a tarefa de reformular a origem do Superman, o que ele fez numa minissérie de seis edições que reimaginou o herói para uma nova geração de leitores.

A reformulação de Byrne tornou a mitologia do Superman mais compacta, e eliminou várias ideias tidas como tolas, em sua maioria introduzidas durante a Era de Prata.

O Homem de Aço é considerado o ponto de partida para a versão moderna do Superman, ou pelo menos era, até o reboot de 2011, quando a origem do herói foi reformulada por Grant Morrison, que combinou elementos modernos com reinterpretações de ideias da Era de Prata, fazendo de sua fase em Action Comics uma grande homenagem à história do personagem nos quadrinhos (trabalho que foi detalhadamente analisado nesta série de artigos).

BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS E ANO UM

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Estes dispensam apresentações. São dois dos trabalhos mais conhecidos de Frank Miller, responsável pela versão mais sombria do Batman que a maioria de nós conhecemos hoje em dia.

Enquanto Cavaleiro das Trevas é ambientada no futuro, a trama de Ano Um ocorre nos primeiros dias do Batman como combatente do crime. Assim, entre 1986 e 1987, Frank Miller foi capaz de abordar tanto o início quanto o fim da carreira do maior vigilante de Gotham City, e com isto entrou para a história dos quadrinhos de super-heróis. Na verdade até mais do que isto, pois tanto Cavaleiro das Trevas como Ano Um frequentemente entram em listas dos melhores quadrinhos de todos os tempos.

A influência do trabalho de Miller foi tamanha, que apenas ano passado a DC abril mão da versão que ele criou para a origem do Batman, dando sinal verde para que a dupla Scott Snyder (roteiros) e Greg Capullo (desenhos) reformulassem a história sobre o primeiro ano de Bruce Wayne como o Cavaleiro da Trevas de sua tão querida Gotham, durante o arco Ano Zero, que durou um ano inteiro, utilizou vários elementos da versão de Miller, e modernizou outros tantos para leitores da nova geração (falei sobre os dois primeiros atos de Ano Zero aqui).

HERÓIS RENASCEM E NOVOS VINGADORES

Pode ser difícil para alguns de vocês imaginarem, mas em meados da década de ’90 os Vingadores estavam longe de serem isto tudo que são hoje. Tanto que uma das estratégias da Marvel para revitalizar a marca foi entregar a equipe de heróis, juntamente com o Quarteto Fantástico, nas mãos de Jim Lee e Rob Liefeld (sim, o cara responsável por este Capitão América!).

O projeto, chamado Heróis Renascem, pode não ter sido um sucesso de crítica, mas ajudou a alavancar as vendas dos títulos que foram relançados num universo Marvel alternativo, o que abriu os olhos da editora para a possibilidade de buscar novos meios de revitalizar aqueles heróis.

Oito anos se passaram, os Vingadores e o Quarteto Fantástico voltaram do universo de Heróis Renascem para o universo principal da Marvel, e entrou em cena um careca gordinho sorridente chamado Brian Michael Bendis, que pegou a Feiticeira Escarlate e a transformou na catalizadora de grandes mudanças que geraram o desmantelamento dos Vingadores (em Vingadores A Queda, sobre a qual já falamos aqui e aqui), e o renascimento da equipe no título Novos Vingadores.

Como toda grande mudança, algumas das ideias de Bendis geraram polêmica (uma delas a respeito de incluir o Wolverine e o Homem-Aranha como membros da equipe), mas não foi o suficiente pra impedir que a reformulação da franquia fosse um sucesso de vendas, algo que continuou pelos anos seguintes, levando Bendis a tornar-se um dos grandes responsáveis pelo núcleo criativo do Universo Marvel dos quadrinhos (e autor de sagas importantes como Dinastia M, Invasão Secreta, O Cerco e co-autor de Vingadores vs. X-Men), e dos Vingadores gerarem vários “títulos-irmãos” (Poderosos Vingadores, Academia Vingadores, Vingadores Sombrios, Avante Vingadores, Vingadores Secretos, Jovens Vingadores, Vingadores Arena, e a lista continua…).

O sucesso dos heróis nos quadrinhos foi o que despertou o interesse de transpô-los para os cinemas, e a ideia de construir uma versão do Universo Marvel para as telonas, que girasse em torno da formação da equipe ao longo de vários filmes.

OS NOVOS 52

New 52 Justice League by Jim Lee

Este está muito bem documentado, e quem acompanhou quadrinhos da DC nos últimos 4 anos já conhece. Foi uma das apostas mais arriscadas de uma grande editora, que funcionou melhor do que o previsto.

Títulos que vinham sendo publicados sem parar desde o final da década de 1930, como Action Comics e Detective Comics, foram zerados e ganharam novas edições nº1, e com eles outros títulos foram relançados do zero em setembro de 2011, totalizando 52 (daí o nome da iniciativa).

O reinício / reboot da continuidade do Universo DC acabou chamando a atenção não apenas do mercado de quadrinhos de super-heróis como também da imprensa, que noticiou com alarde a iniciativa. A jogada deu tão certo que impulsionou as vendas da DC, e do mercado como um todo.

Claro que o reboot não agradou a todos, especialmente leitores mais antigos da DC, que viram 70 anos de continuidade serem apagados ou condensados, pois no novo universo DC os heróis surgiram há apenas 5 anos atrás. Com isto as mais prejudicadas foram equipes de heróis tradicionais, como a Sociedade da Justiça, composta de heróis que atuavam desde a 2ª Guerra Mundial, e a família de heróis ligados ao Flash, entre outros.

No ano seguinte, como uma espécie de “resposta tardia” à estratégia de sua maior rival no mercado editorial, a Marvel iniciou a fase Marvel NOW!, que não chegou a zerar a continuidade, mas relançou desde o número um diversos títulos, oferecendo uma chance para leitores novatos começarem a acompanhar as histórias de vários heróis. Uma estratégia que a editora vem repetindo a cada ano desde então, com All-New Marvel NOW!, Avengers NOW! e, especula-se, repetirá após a saga Time Runs Out, em 2015.

Analistas econômicos creditam aos Novos 52 da DC o crescimento do mercado de quadrinhos nos últimos anos, que há muito tempo não era tão forte.

GIANT-SIZE X-MEN

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Acredite se quiser, entre os longínquos anos de 1970 e 1975 não foram produzidas histórias inéditas dos X-Men devido à baixa de vendas. No lugar de novas aventuras, o título trouxe republicações de histórias antigas.

Tudo mudou em 1975, com o lançamento de Giant-Size X-Men #1, que apresentou uma equipe formada por heróis mutantes vindos de diversas partes do mundo, entre eles Wolverine, Tempestade, Noturno e Colossus.

Esta reformulação da equipe, encabeçada por Len Wein (roteiro) e Dave Cockrum (arte), foi logo seguida pela chegada de Chris Claremont, que assumiu o título dos X-Men, e lá ficou por (pasmem!) 17 anos.

A longa fase de Claremont como escritor dos X-Men gerou alguns dos maiores clássicos dos quadrinhos (A Saga da Fênix Negra e Dias de Um Futuro Esquecido, entre as que mais se destacam), além de vários spin-offs que expandiram o universo mutante dentro da Marvel, ajudaram a redefinir a forma de contar histórias em quadrinhos em meados dos anos ’70, construiu praticamente toda a mitologia dos X-Men que inspiraram várias séries de animação, filmes, e uma indústria de produtos licenciados que está na casa dos bilhões de dólares, além de ter levado a série em quadrinhos dos heróis mutantes ao topo das vendas, uma posição que a franquia jamais perdeu desde então.

SHOWCASE #4

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A 2ª Guerra Mundial foi um acontecimento importante e definidor não apenas da história do mundo, como do nascimento dos super-heróis dos quadrinhos. Foi entre o final dos anos de ’30 e meados dos anos ’40 que eles viveram, literalmente, sua Era de Ouro. Mas bastou a guerra terminar para os super-heróis perderem a popularidade como meios de escapismo dos combates sangrentos que amedrontavam o mundo.

Uma das estratégias das editoras de quadrinhos para sobreviverem à mudança de gosto de seu público foi começar a produzir mais histórias de crime, horror e romance, que passaram a ser as mais lidas da época.

Mas isto não durou muito, pois em 1954, como consequência do livro Sedução do Inocente (Seduction of the Innocent) – escrito pelo psicólogo Fredric Wertham, que acusava os quadrinhos de incitar crianças e jovens ao crime e à violência – foi criada a Autoridade do Código dos Quadrinhos (Comics Code Authority), um órgão do governo dos Estados Unidos responsável por regulamentar o conteúdo da publicações de todas as editoras. Graças a ele a maioria das revistas de terror e crimes foram banidas, e o mercado de quadrinhos sofreu uma nova retração.

Podem adivinhar quem salvou a indústria de quadrinhos novamente? Eles mesmos, os super-heróis! Sem poderem botá-los para combater “criminosos de verdade”, as editoras usaram de uma artimanha muito simples: torná-los combatentes de ameaças alienígenas, cientistas loucos e seres superpoderosos. Com isto começou a Era de Prata.

Vários foram os títulos que, em conjunto, iniciaram a Era de Prata da DC Comics, mas talvez o que mais se destaca quando analisada em retrospecto seja Showcase #4, de 1956, a HQ que apresentou ao mundo Barry Allen, o novo Flash, uma reformulação de Jay Garrick, o Flash da Era de Ouro.

O Flash da Era de Prata abriu caminho para uma série de relançamentos da DC, que por sua vez levaram a Marvel a fazer o mesmo, revivendo o Capitão América e, com ele, iniciando um dos períodos mais criativos dos quadrinhos de super-heróis, que décadas depois divertem crianças e adultos em suas versões em live-action nos cinemas, as quais estão, de certa forma, salvando a indústria do entretenimento atual e gerando bilhões em bilheterias e produtos para todos os gostos e idades.

Fonte: Newsarama

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