[SÉRIE] Gotham S01E01 – Pilot

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Como é que você conta a história de personagens que são mundialmente conhecidos sem que isto soe redundante? Bom, uma das formas de fazer isto é explorar um ponto da vida deles no qual eles ainda não eram tão conhecidos no mundo do qual fazem parte. Ou, se assim preferir, não se transformaram em suas personas mais famosas.

Pois é exatamente isto que os criadores da série Gotham se propuseram a fazer. Sabendo que uma grande parte de seu público conhece Batman, James Gordon, Pinguim, Mulher Gato, Hera Venenosa, Charada, entre outros, seja dos quadrinhos, dos filmes, ou dos desenhos animados, seus roteiristas voltaram um pouco mais no tempo, até um período em que todos eles ainda estavam longe de serem os heróis e vilões nos quais a vida os transformaria.

Essa galerinha do mau vai aprontar altas confusões.

Essa galerinha do mau vai aprontar altas confusões.

O piloto que foi exibido ontem, e rendeu uma audiência respeitável para a Fox (mais de 8 milhões de pessoas assistiram a premiere), chama atenção logo nos primeiros minutos por ir direto ao ponto. Ele já começa apresentando a adolescente Selina Kyle (Camren Bicondova), futura Mulher Gato, praticando roubos, e aperfeiçoando a arte pela qual ficaria conhecida como uma das melhores ladras de Gotham City. Não demora muito pra surgirem Bruce Wayne (David Mazouz) e seus pais num beco próximo e… Bom, o resto desta história você já conhece, seja dos filmes, de Batman – A Série Animada, ou da sequência em “slow motion” desenhada por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas, que é a principal referência visual usada por Danny Cannon, diretor do episódio.

Outro trabalho realizado de maneira competente é a apresentação de praticamente todo o elenco principal da série neste primeiro episódio. Além de Selina, Bruce, os Wayne (rapidamente, é claro), Jim Gordon (Ben McKenzie) e Harvey Bullock (Donal Logue), ainda temos aparições rápidas de Clare Foley como Ivy Pepper (futura Pamela Isley, a Hera Venenosa/Poison Ivy) e de Cory Michael Smith como Edward Nygma (futuro Charada). Reneé Montoya (Victoria Cartagena) e seu parceiro Crispus Allen (Andrew Stewart-Jones) têm um pouco mais de relevância pra trama do piloto, mas não foram tão explorados aqui, algo que deve ocorrer mais adiante. Os que mais se destacam, além da dupla de detetives, é Fish Mooney (Jada Pinkett Smith) e seu “capanga/capacho” Oswald Cobblepot (Robin Lord Taylor), isto mesmo, o futuro Pinguim!

Aliás, uma das  diversões óbvias que a direção de arte da série teve foi encontrar formas de brincar com a iconografia dos futuros vilões do Batman. A pequena Ivy aparece cuidando de plantas sempre que sua casa é visitada por Gordon; em sua primeira aparição, Oswald aparece segurando um guarda-chuva; e Nygma, bem, aparece fazendo piadinhas com charadas (essa soou um tanto gratuita, na minha opinião). Pouco sutis, sim, mas estamos falando de personagens que foram adaptados de quadrinhos de super-heróis, que estão longe de serem discretos.

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Oswald “Pinguim” Cobblepot já se acostumando com seu adereço mais conhecido.

Outro grande acerto está na ambientação. Gotham é suficientemente suja pra passar a impressão de uma cidade que já se distanciou de seus dias de glória (se é que os teve), e os cenários do Departamento de Polícia e da casa noturna de Mooney impressionam pela arquitetura caprichada, com seu estilo mais clássico e meio retrô. O mesmo pode ser dito da fotografia, que mantém uma paleta mais sóbria, variando entre o cinza e o azul, mas que sabe a hora certa de ressaltar cores mais luxuriosas ou violentas, quando o momento as pede.

Interior do Departamento de Polícia de Gotham City.

Interior do Departamento de Polícia de Gotham City.

“Tá, Rodrigo, parece tudo muito bonito do jeito que você tá descrevendo, mas, e os personagens, funcionam? São carismáticos? Dá pra se importar com eles?” Ao que eu responde: veja bem… Gordon é o policial honesto que todos conhecemos dos quadrinhos e dos filmes, que encontra uma Gotham já mergulhada em corrupção em todos os níveis de poder que controlam a cidade. Em essência é uma versão mais nova do personagem, mas… achei Ben McKenzie meio apagão. O Harvey Bullock de Donal Logue tem mais personalidade que ele, provavelmente porque é o malandrão corrupto da dupla.

O piloto de Gotham resumindo num pôster: Fish Mooney e o resto...

O piloto de Gotham resumido num pôster: Fish Mooney e o resto…

Apesar de ser um episódio povoado de futuros vilões do Batman, o piloto deu mais destaque pra Fish Mooney, que foi uma das personagens criadas especialmente pra série. É bem justificada a presença dela, pois ela é subordinada de outro velho conhecido de quem acompanha especialmente os quadrinhos (em especial Batman – O Longo Dia das Bruxas): Carmine Falcone. Ela rouba todas as cenas em que aparece, e praticamente faz o futuro Pinguim de gato e sapato (vocês vão entender quando verem a cena).

Ah sim! O episódio inteiro gira em torno da investigação do assassinato dos Wayne, que parece ser mais que um mero crime aleatório – algo que toma como referência provavelmente Batman: Terra Um, em que há uma conspiração por trás da morte do casal – que acaba servindo para mostrar a Gordon até que ponto vai toda a corrupção que impregna Gotham, que por sua vez será o mote da série, e a motivação de Bruce Wayne para ir de órfão desamparado criado pelo mordomo (que, aliás, ficou bem bacana interpretado por Sean Pertwee) a “vou me tornar um vigilante, e aprender todas as artes marciais do mundo pra chutar as bundas dos bandidos dessa cidade.”

É um ótimo episódio de estréia, que cumpre sua função de apresentar a premissa e introduzir os personagens principais. Agora é acompanhar pra saber se conseguirá aprofundar-se em cada um destes indivíduos, e desenvolvê-los de uma forma envolvente para o espectador. Mas, sim, é um episódio bom o bastante pra te deixar interessado em continuar de olho pra saber onde tudo isto vai dar.

Nota 8

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