[QUADRINHOS] The Sandman – Overture #1 – Quando Neil Gaiman Nos Fez Sonhar de Novo

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É a volta de Neil Gaiman à sua maior criação, ao lado do desenhista J. H. Williams III. Um dos grandes acontecimentos do ano no mundo dos quadrinhos. Se isto não for o suficiente pra te convencer a ler o restante desta review, e saber como foi a primeira edição desta minissérie bimensal em 6 edições que servirá de prelúdio para a série em quadrinhos que marcou época e mudou a indústria dos quadrinhos, eu não sei mais o que dizer.

ATENÇÃO: o texto abaixo contém alguns SPOILERS da edição analisada.

Com seus talentos como contadores de histórias mais do que comprovados e premiados, Neil Gaiman e J. H. Williams III têm liberdade o bastante para escolherem seus próximos projetos. Para o júbilo dos apreciadores da nona arte, um alinhamento de circunstâncias permitiu que ambos se unissem, ao lado do colorista Dave Stewart, o terceiro integrante dessa equipe de grandes nomes dos quadrinhos, para voltar ao universo de Sandman.

A história já começa intrigante, levando o leitor aos primórdios da vida de um planeta muito parecido com a Terra onde uma planta carnívora sonha com uma versão vegetal de Morfeus, que logo nas primeiras páginas morre repentina e misteriosamente.

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O restante da edição é uma rápida viagem pelas dimensões e personagens que compõem a rica mitologia e elenco de Sandman. Revemos o temível Coríntio; um rápido encontro entre Morte e Destino; uma intrigante conversa entre Morfeus e sua criação de três bocas; e um evento que levará o protagonista ao ponto em que o encontramos em Sandman #1 (1989), o qual será um dos motes centrais da mini-série; além de breves aparições de Marvin Cabeça-de-Abóbora e Lucien.

O casamento da arte detalhista e fluida de Williams com o texto poético e filosófico de Gaiman é algo tão mágico, e tão orgânico, que me levou a perguntar: Como jamais pensaram em uni-los num projeto antes? A minúcia dos traços do desenhista, e sua diagramação de páginas em constante mutação, parece que foi desenvolvida durante uma vida inteira para retratar o aspecto mercurial do universo fantástico de Sandman, em seu fluxo constante entre o mundo dos despertos e o Sonhar. É como se durante todos os seus anos dando forma às idéias de Alan Moore (na série Promethea, outro marco visual dos quadrinhos) e Grant Morrison (abrindo e encerrando o ambicioso Sete Soldados da Vitória), Williams estivesse refinando suas múltiplas técnicas de ilustração e narração visual pra tornar ainda mais gloriosa essa revisita a uma das mitologias modernas mais aclamadas da cultura pop.

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Falando um pouco mais sobre os detalhes da história, quem leu os títulos publicados pelo então nascente selo Vertigo, resultado da “Invasão Britânica” no mercado de quadrinhos dos Estados Unidos, pode ter feito a mesma conexão que eu fiz enquanto lia as primeiras páginas de Overture. A forma como Gaiman descreve as impressões sensoriais da planta que presencia a morte de Sonho me pareceu uma sutil homenagem do escritor ao trabalho de Alan Moore em Monstro do Pântano, uma das séries que deram origem ao selo.

Elogios devem ser feitos também para as transições de cenas que Gaiman fez com o auxílio da arte de Williams, como a rima temática presente na transição de uma cena envolvendo o Coríntio, que “enxerga” com seus olhos/bocas famintos e “vazios”, para a seguinte, protagonizada por Destino, o Perpétuo cego, eternamente preso ao livro que é uma representação metafísica do Universo. Aliás, toda a sequência envolvendo ele e sua irmã Morte é mais um espetáculo visual do desenhista, que brinca maravilhosamente com a metalinguagem do texto inspirado de Gaiman.

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Dizer mais do que isto sobre a história seria correr o risco de estragar uma grande surpresa que a trama reserva para o final da edição, que não apenas rende mais páginas maravilhosas de Williams, como uma página quádrupla que deixará muitos leitores com vontade de comprar uma segunda cópia da HQ, só para destacá-la, enquadrá-la, e pendurá-la na parede. Aliás, falando a mais pura verdade, cada uma das páginas duplas de Williams merecia esse tratamento.

Sem a menor dúvida um dos melhores e mais visualmente belos lançamentos do ano, leitura obrigatória para apreciadores não apenas da nona arte, mas da Arte em suas multifacetadas representações, tão vastas quanto as formas que o Sonho toma para cada um de nós, os sonhadores que visitam seus domínios todas as noites ao dormir. Bem vindo de volta ao nosso mundinho, Morfeus! E obrigado Gaiman e Williams!

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