[QUADRINHOS] Captain Victory and the Galactic Rangers #1 – Kirby Vive!

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Ficha técnica:

Escrito por Joe Casey
Ilustrado por Nathan Fox, Jim Rugg e Ulises Farinas
Cores por Brad Simpson
Letras por Simon Bowland
Publicado por Dynamite Comics

Hoje é um dia que deve ser bastante celebrado pelos amantes de quadrinhos, pois é o aniversário do grande Jack Kirby, o rei da nona arte, que caso ainda estivesse vivo, completaria 97 anos. Conhecido como o responsável pela criação de personagens e universos imaginativos tanto na Marvel quanto na DC, Kirby é um dos mais brilhantes artistas que essa arte já teve. Em homenagem a ele, não só tentarei falar um pouco sobre uma das suas últimas e interessantes obras, como quero também apresentar o espetacular tributo ao quadrinista feito por Joe Casey com sua revisão de Captain Victory and the Galactic Rangers, uma das grandes criações do rei, que esteve um pouco esquecida pelo tempo, apesar de terem tentado ressuscitá-la algumas vezes no passado.

Captain Victory and the Galactic Rangers foi uma série lançada pela finada Pacific Comics em 1981, durou treze edições e ainda ganhou um especial, todos escritos e desenhados por Jack Kirby. O protagonista, o patrulheiro e militar interestelar Captain Victory, é uma mistura de Capitão Kirk com o novo deus Órion, mais uma leve pitada de Kamandi. Falando em Órion, fica implícito nas últimas edições que, talvez, Victory seja filho do tal personagem, principalmente pela transformação física sofrida quando entrava em combate e a presença de seu avô, Blackmass, que possui uma silhueta semelhante à de Darkseid. Infelizmente, como os Novos Deuses legalmente pertencem a DC Comics, Kirby nunca confirmou essas ligações. Fora isso, há o personagem chamado Mister Mind, um dos membros da equipe de Victory, que é uma releitura de MODOK, vilão criado pelo quadrinista na época que trabalhava na Marvel. O título em si era uma colagem de diversas ideias do próprio Kirby, repleta de experimentalismo surreal puxado no sci-fi com conceitos transcendentalmente absurdos. Resumindo superficialmente, era um Star Trek por Jack Kirby.

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Graças a uma negociação com os familiares de Kirby (uma das suas poucas criações que ele manteve sob sua guarda), a Dynamite Comics conseguiu os direitos de produzir material com esse particular universo kirbyiano. Não é a primeira vez que a editora investe em algo relacionado a obra do rei, só lembrarmos o saudosista Kirby Genesis de Kurt Busiek, Alex Ross e Jackson Herbert, lançado recentemente no Brasil pela editora Mythos. E para realizar o resgate desses personagens, chamaram Joe Casey, membro da Man of Action (grupo de roteiristas responsáveis por animações como Ben 10 e Generator Rex) e um dos mais subestimados escritores de quadrinhos da atualidade, eu diria.

“Kirby é o Alfa e o Ômega dos quadrinhos,” disse o escritor Joe Casey há pouco tempo numa entrevista para o Bleeding Cool. Olhando a carreira do rei é difícil discordar dessa afirmação, principalmente se lembrarmos como ele possuía uma força criativa tremenda, que impressiona qualquer um ao ler seus mais seminais trabalhos. Seus quadrinhos esbanjam um senso de grandiosidade que poucos artistas podem se equiparar e, felizmente, Casey é um dos poucos escritores que possuem não só consciência disso, como tenta reproduzir o efeito que a genialidade de Kirby lhe proporcionou quando criança na maioria de suas obras, através de histórias contendo uma imponente energia e conceitos fantásticos e insanos.

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O último grande trabalho finalizado do escritor, a série Godland na Image Comics, é uma gigantesca carta de amor a tudo que o rei criou. Tanto que contou com a arte de Tom Scioli, um cara extremamente influenciado por Kirby, pois seu traço transpira a mesma energia e destreza dele. E se observarmos uma das primeiras empreitadas do roteirista na Marvel, no título solo de Cable (aquele grandalhão de trabuco nascido nos traços de Rob Liefeld), buscava bastante inspiração nos quadrinhos de ficção-científica mais surtados do rei, como sua fase no Capitão América nos anos 70 e Captain Victory and the Galactic Rangers, a primeira HQ de Kirby que Casey leu, segundo o próprio.

No início dessa sua releitura de Captain Victory, Casey busca focar pouco no protagonista e aproveita os seus colegas patrulheiros galácticos para apresentar diversas facetas do universo do título, abrindo subtramas que devem compor um cenário maior. Cada membro da equipe tem uma importância balanceada nessa primeira edição, o escritor prefere apresentá-los ao invés do seu próprio capitão, como se fossem componentes separados da personalidade do próprio.

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A questão sobre identidade parece ser o tema principal de início na abordagem de Casey. Após um ataque de Mekkanos, os antagonistas da HQ, a nave sofre de uma terrível tragédia: Captain Victory morre. Logo é revelado que, na verdade, sua consciência foi reiniciada e também transferida para diversos clones, já que ele é valioso para que a corporação da qual faz parte o perca. No meio do ataque, dois deles conseguiram escapar. Um dos clones é um jovem garoto e cai na Terra, mais precisamente numa Nova York caótica e repleta de letreiros luminosos. O segundo, um adulto de forma monstruosa, cai num planeta inóspito, que talvez seja a nossa Terra pós-apocalíptica dum futuro distante, habitada por prováveis mutantes. Dá para sacar que Casey pretende explorar essa dualidade própria do antigo personagem, que na maioria do tempo era um simpático herói, mas poderia se tornar um intenso soldado truculento dependendo da situação. Afinal, se o personagem não poderia ser legalmente o filho de Órion, pelo menos um dos conceitos do personagem foi aproveitado. Teremos uma jornada macrocósmica através da galáxia, mas também microcósmica, ao tentar compreender quem é o próprio Captain Victory.

Seguindo o método de Catalyst Comix da Dark Horse, uma de suas últimas obras e também outra revitalização de personagens já existentes, Joe Casey reuniu uma diversificada equipe de artistas para tornar a HQ algo pluralmente artístico. Nathan Fox, Jim Rugg e Ulises Farinas são os ilustradores, enquanto Brad Simpson fica nas cores e Simon Bowland como letrista. Com essa mistura, Casey consegue proporcionar uma experiência visual enérgica e pulsante, como uma boa obra baseada nas ideias de Kirby deve ter. A forma como os estilos diferentes de arte intercalam-se entre si, criando um fluxo de consciência imagético excitante, passam a sensação de um turbilhão de traços e cores passando por nossos olhos. Diria que os artistas experimentam e superaram os seus próprios limites aqui, engajados pela visão de Casey e a influência do rei. Em termos de narrativa visual, essa primeira edição é de encher os olhos.

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Com base na estreia, a nova versão de Captain Victory and the Galactic Rangers por Joe Casey e sua equipe será uma expansão das ideias visionárias que Kirby não só semeou nesse universo, como por toda sua carreira, com Kirby krackles e tudo mais. É a prova viva que o legado do quadrinista vive não só porque suas criações ainda estão circulando por aí nas mãos de trocentos artistas, mas também porque seu fortíssimo espírito artístico continuará presente em todos aqueles que foram influenciados por todas as suas obras.

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