[SÉRIES] Gotham s01e02: “Selina Kyle” (Resenha)

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No episódio desta semana de Gotham, Jim Gordon e Harvey Bullock têm que descobrir quem está por trás do sequestro de crianças abandonadas nas ruas de Gotham City, entre elas Selina Kyle. Paralelo a isto, acompanhamos os desdobramentos da expulsão de Oswald Cobblepot da cidade.

A série mantém neste 2º episódio o clima de máfia noir do piloto (leia duas resenhas nossas, aqui e aqui), que é reforçado pela formação de uma rivalidade maior entre Fish Mooney e Carmine Falcone. Durante uma conversa entre eles, é citada outra família criminosa de Gotham, os Marori, que ao lado dos Falcone remete ao trabalho de Jeph Loeb nos quadrinhos, na minissérie Batman: O Longo Dia das Bruxas, uma das principais influências da trilogia cinematográfica de Christopher Nolan, que aparentemente também servirá de inspiração para a equipe de roteiristas de Gotham.

Um brinde entre "aliados" antes do momento "EEEEEEEEPAAAAAA!!!!" da Fish Mooney

Um brinde entre “aliados” antes do momento “EEEEEEEEPAAAAAA!!!!” da Fish Mooney

Conforme dito acima, a trama central do episódio gira em torno da investigação da dupla Gordon e Bullock sobre vários sequestros de crianças e adolescentes “de rua”, informação que chega até eles pela boca de um dos que conseguiram escapar da dupla de sequestradores.

Devo dizer aqui que Patti e Doug, o casal de vilões da vez, me incomodou um bocado pelas atuações exageradamente caricatas de Lili Taylor e Frank Whaley. Dava pra terem dosado um pouco mais no tom, que acabou fazendo eles destoarem muito de seus colegas de elenco.

"Hmmm... Vejamos como podemos exagerar AINDA MAIS em nossa atuação..."

“Hmmm… Vejamos como podemos exagerar AINDA MAIS em nossa atuação…”

Aliás, essa irregularidade de tom também está presente na montagem e na direção deste episódio (algo que diversas pessoas apontaram como um dos principais problemas de direção do 1º episódio). Se num momento ambos adotam uma abordagem mais série e contida, em outro um breve desentendimento entre Gordon e um policial corrupto acerca do estado de uma cena do crime, já vira motivo pra meter uma música mais “agitada” a fim de ilustrar a situação, mesmo que ela soe redundante e deslocada naquele instante. Outro exemplo é o momento em que Fish, após ver seu amante ser espancado por capangas de Falcone, expulsa todo mundo de sua casa noturna SEGUNDOS DEPOIS de despedir-se de seu superior. Pra quem não quer levantar suspeitas do chefe, isto passou longe de ser discreto, né? Ambos os casos são sinais de mão pesada, tanto do diretor do episódio, Danny Cannon, como da dupla Graeme RevellDavid E. Russo, compositores da trilha sonora.

Críticas negativas à parte, falemos das virtudes do episódio, a começar por quem dá seu nome a ele: Selina Kyle. Ela, que apareceu rapidamente no início e no final do piloto, tem neste sua agilidade, furtividade  e malandragem destacadas, além de ter sua conexão com o assassinato dos Wayne reforçada, especialmente no gancho final. E Camren Bicondova demonstra estar bem à vontade no papel, que ela interpreta com naturalidade e desenvoltura.

Selina já mostrando que desde cedo sabia manipular os homens.

Selina já mostrando que desde cedo sabia manipular os homens.

Vale também notar o boas sacadas da Lisa Padovani, figurinista da série, que combinou no traje de Selina as calças rasgadas, que remetem ao uniforme da versão da personagem interpretada por Halle Barry naquele filme horrível de 2004; com os óculos protetores, usados pela personagem quando teve seu uniforme nos quadrinhos reformulado por Darwyn Cooke. Além disto, acho importante destacar um detalhe que muitos já apontaram: o quanto Camren Bicondova lembra uma versão mais jovem de Michelle Pfeiffer, que interpretou a Mulher-Gato em Batman: O Retorno (1992).

Um outro detalhe sobre a personagem que chama atenção é a informação de que Selina acredita que sua mãe ainda está viva, e a falta de qualquer menção ao seu pai, o que abre a possibilidade de que uma das principais motivações da personagem na série será reencontrar a mãe, e, talvez, descobrir quem é seu pai. Isto pode significar uma versão de sua origem parecida com a que está sendo explorada agora na série em quadrinhos Batman Eternal (para mais detalhes sobre isto leia este artigo, que contém SPOILERS).

Paralelo aos acontecimentos em Gotham City, neste 2º episódio continuamos acompanhando a trajetória de Oswald “Pinguim” Cobblepot, que faz o que pode para sobreviver fora de sua cidade, o que inclue tornar-se um serial killer e um sequestrador, obviamente. Em sua aparência, especialmente pela maquiagem feita no ator, ele está lembrando cada vez mais a versão “anfíbia” e “mutante” interpretada por Dany DeVito em Batman: O Retorno. Se isto é bom ou ruim, cabe a cada um fazer seu julgamento. Eu particularmente gosto daquela versão do personagem (que, vale lembrar, inspirou o 1º visual do vilão em Batman – A Série Animada, o que não pode ser subestimado).

Oswald prestes a acionar o modo "serial killer" (foco no olhar de psicopata)

Oswald prestes a acionar o modo “serial killer” (foco no olhar de psicopata)

Antes de concluir, compensa citar outras referências feitas por este episódio, que provavelmente serão mais importantes no futuro da série:

  • Descobrimos que o Asilo Arkham seria reativado pelos Wayne. Mas qual seria o motivo que os levou a tomar essa decisão? Quem leu o arco A Noite das Corujas, escrito por Scott Snyder, pode ter um bom palpite, embora eu ache que esta seria uma aposta muito arriscada.
  • Este episódio ainda insinua a origem da preocupação de Bruce Wayne em ajudar crianças e adolescentes órfãos como ele. Ou seja, testemunhamos o início de sua filantropia, que anos depois o levaria a adotar Dick Grayson, o 1º Robin, como filho.
  • gotham-s01e02-selina-kyle-professor-porkoTivemos também a aparição de um tal Lazlo, como o garçon amante de Fish Mooney. Lazlo é o nome verdadeiro do vilão Professor Porko, criado por Grant Morrison durante os 7 anos em que escreveu histórias do Batman para a DC. O sujeito é um perturbado que usa uma máscara de porco, e transforma as pessoas que sequestra em zumbis com máscaras de bonecas fundidas a seus rostos. Será que veremos isto na série futuramente? O que nos leva ao item seguinte…
  • O chefe da dupla de sequestradores deste episódio é chamado de “Criador de Bonecas” (Dollmaker). Para quem acabou de ler a descrição acima do Professor Porko apostaria nele, certo? Mas estaria errado, porque o Criador de Bonecas é um serial killer que usa partes do corpo humano para criar bonecas. O vilão foi o responsável por, literalmente, arrancar o rosto do Coringa, a pedido do próprio, apenas para que ele pudesse ficar com essa aparência simpática aí de baixo:

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Ainda que seja, teoricamente, o protagonista da série, Jim Gordon ainda carece de um desenvolvimento que torne sua jornada mais interessante de se acompanhar. Torço para que isto seja ajustado nos episódios seguintes. Por enquanto, está valendo acompanhar a série mais pelas inúmeras referências que ela faz ao universo do Batman, mas logo só elas não bastarão para preservar o interesse de um telespectador mais exigente.

Nota: 7,0

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